Uma tragédia recorrente

Tem horas que dou uma paradinha rápida nas postagens de humor e daquelas com a desculpa de colocar fotos de garotas bonitas, e falo de algum assunto mais sério. E dessa vez é sobre a tragédia que ocorreu nessa última semana aqui no estado do Rio de Janeiro, em especial na Região Serrana. As fortes chuvas provocaram deslizamentos e enchentes que já mataram mais de 600 pessoas até o momento. É o maior desastre climático ocorrido na história do Brasil e está ente os 10 maiores deslizamentos de terra registrados no mundo.
Não quero levantar muita polêmica sobre esse assunto macabro, onde várias famílias estão sofrendo sem ter onde ficar ou o que comer e chorando a perda de entes queridos. Mas correndo o risco de ser chamado de frio e insensível, faço uma análise mais direta desses fatos, e digo que eu já imaginava que essa tragédia iria acontecer. Não, eu não quero bancar o profeta e julgar que sei prever o futuro... Mas quando olhamos para o passado, vemos que essas catástrofes sempre aconteceram e nada tem sido feito para evitá-las, e não seria surpresa que viessem a acontecer de novo. Lembra-se do que aconteceu no ano passado? Na virada de 2009 para 2010 houve deslizamentos em Angra dos Reis, com várias mortes. Alguns meses, o Morro do Bumba veio abaixo em Niterói, fazendo centenas de vítimas. E se formos voltando mais alguns anos, vemos que nessa época de início de ano sempre ocorreram incidentes provocados pelas fortes chuvas de verão. Caramba, é algo tão previsível como dizer que alguém vai ganhar o BBB ou um time de futebol será campeão brasileiro, por que ninguém faz nada para evitar isso? Na minha opinião, as autoridades (entenda-se governos municipal, estadual e federal) têm uma grande parcela de responsabilidade pelo ocorrido. Elas não fazem nada para prevenir esses desastres, como obras de contenção, reflorestamento em encostas e remoção de famílias de áreas de risco. Sabe por que nossos governantes não dão a mínima para isso? Porque são obras que não tem muito apelo eleitoreiro, não é uma propaganda tão forte para colocar no horário político. Eles estão mais preocupados em fazer obras de fachada nas favelas e promover políticas assistencialistas para ganhar o voto do povão, isso sim. Sem falar que mostrar a cara em tragédias é algo que essa turma gosta, para mostrar que estão "preocupados" com o bem-estar da população. É só ver, logo depois que a tragédia tomou proporções épicas, nosso ilustre governador Sérgio Cabral, o idiota, já quis aparecer e saiu falando merda. Disse que a natureza é implacável e não tem como evitar, mas que a grande culpa é da ocupação irresponsável. E pergunto pra você, ô estúpido: você viu toda essa ocupação acontecendo e fez o quê, seu babaca? Não fez NADA! Que tipo de governo é esse que vê coisas erradas acontecendo e não faz nada? A culpa é sua também, Sérgio Cabral, por ser omisso. Diga-se de passagem que o governador fez esse comentário infeliz do exterior, pois está de férias... Convenientemente, não acham? É que nem aquele outro cretino, o Carlos Minc, que entre ser enrrabado por um pitboy e uma tragada num "cigarrito del diablo" veio dizer que um mapeamento das áreas de risco na Região Serrana foi feito. Tá, e aí? Mapeou regiões perigosas, e o que fez com a população que morava lá? Puta merda, viu que haviam pessoas em uma área que poderia desabar com uma possível chuva pesada, e em vez de remover as pessoas dali, deixou quieto. Fala sério... Claro, não podemos ser hipócritas e pensar que a culpa é toda dos governantes (embora a maior parte seja de fato). Existe uma boa parcela de responsabilidade do povo sim. Afinal de contas, muitas das construções que desabaram foram erguidas em regiões de risco. Isso inclui aqueles que montam seus lares em encostas ou nas margens de rios. Ora, não precisa ser grande coisa para saber que com chuvas torrenciais esses são os primeiros lugares a serem atingidos. Por que então constroem suas casas nesses lugares? Eu não arriscaria minha vida vivendo em uma casa que pode ser soterrada se a encosta ceder, ou na beira de um rio que pode encher e inundar tudo. Isso se chama auto-preservação, o que nos impede de querer atravessar uma avenida movimentada correndo, por exemplo. Mas muitas pessoas parecem "desligar" essa voz da razão e bom senso e cismam em arriscar suas vidas... E depois ficam todos comovidos quando esses inconsequentes morrem. Outra "contribuição" que a população tem está no total desrespeito pela natureza. Muitos desabamentos talvez não ocorressem se as matas nativas dos morros não fosse posta abaixo... Isso é muito comum em favelas, onde as pessoas derrubam árvores para construir seus barracos, mas também ocorre em lugares mais chiques, para erguer casas de luxo. Sem as árvores, que com suas raízes absorvem boa parte da água acumulada pelas chuvas e sustentam o solo, toda aquela terra encharcada uma hora se desprende e vem abaixo, levando tudo que estiver no caminho. Além disso, tem a poluição nos rios também... Todo o lixo e sujeira acumulada nos rios diminui a sua capacidade de escoamento e favorecem as cheias, além de depois serem os grandes causadores de doenças quando vem as enchentes. Mas não adianta, a população parece achar que os rios são esgotos, que a correnteza vai levar o lixo embora... Aí jogam de tudo, desde restos de comida até sofás velhos, só falta jogar a mãe correnteza abaixo. E o mais irônico é que normalmente as pessoas que moram nas margens dos rios e estão agora sofrendo com as enchentes são as que mais jogam lixo nos rios... Aí certamente vai aparecer algum babaca dizendo que as pessoas não moram ali porque querem, mas por falta de opção. Não é bem assim, as pessoas têm opção sim, acontece é que elas sempre escolhem a maneira que será mais cômoda e/ou barata. Convenhamos, tem gente morando em favelas porque essas pessoas querem ficar mais perto do trabalho, sem falar que morando ali não vão precisar pagar imposto. As populações ribeirinhas preferem ficar ali nas margens dos rios para estar mais perto de uma fonte de água e pesca, sem falar que, como disse acima, podem aproveitar o rio como esgoto. E os ricaços querem construir suas mansões nas montanhas para ficar chique. Todos eles têm opção: vai morar na Baixada ou em São Gonçalo e arruma um trabalho mais próximo; vai construir sua casa em uma região mais seca com esgoto e estrutura; vai arrumar uma mega-casa na Barra... Agora, se essas opções não agradam e preferem morar em locais de risco, vai lá, cada um é livre para fazer o que quiser. Só não reclama depois... Outra coisa que sempre acontece também é a solidariedade das pessoas, é comum que logo após essas tragédias se iniciem os movimentos da população para juntar mantimentos, roupas e remédios para os desabrigados. Sabe, acho até legal que nesse momento existam almas caridosas que se voltam para ajudar os necessitados... Mas também o que deve ter de gente fazendo isso só por "modinha", isso deve ter! Não duvido que tem sujeito que só está ajudando porque é o que todo mundo está fazendo, que só está colaborando para se sentir bem consigo mesmo... Ih, já imagino que vai ter leitores aqui que vão me xingar, dizendo que sou desumano por criticar as atitudes solidárias. Estou querendo dizer que tem muito "Maria vai com as outras", que em uma situação cotidiana jamais iriam gastar seu dinheiro comprando cesta básica para pessoas famintas ou dar suas roupas velhas para desabrigados. Só o fazem agora porque não quer ficar de fora. Claro, não estou generalizando, certamente tem muita gente que está fazendo isso de coração, mas que tem muito vagabundo só querendo posar de "bom samaritano", não duvido. E ai de você se não der nada para os desabrigados... Só para ver como são as coisas, lá no trabalho apareceu uma mulher pedindo que todos juntassem roupas velhas para doação. Quando ela chegou e falou comigo, eu disse que não tinha nada para doar, e a mulher virou um bicho! Disse que eu era um insensível, que tinha coração de pedra. Falou que eu estava errado por não ter consideração pelos mais necessitados e que estava sendo egoísta. Finalizou dizendo que se um dia eu passasse por essa situação, que ninguém me ajudasse, para assim eu dar valor à solidariedade... Bem, eu esperei ela terminar de cacarejar, e então eu disse que eu não tinho nenhuma roupa para doar porque tinha acabado de fazer a limpeza de minhas coisas nesse final de ano, e todas as roupas que não ia mais usar eu já havia entregue para uma Igreja perto de casa. A mulher ficou sem ter onde enfiar a cara, mas saiu anda gesticulando e me amaldiçoando. Engraçado como as pessoas são... Não importa se você anualmente ajuda os necessitados, o que vai dizer se você é solidário ou não é se você doa alguma coisa após uma catástrofe. Aposto que para essa mulherzinha, e para muitas outras pessoas por aí, essa será a única oportunidade nesse ano em que vão ajudar os necessitados, durante todos os outros meses não vai mexer um dedo. Bando de gente hipócrita! É muito fácil querer bancar o socialmente engajado apenas nessas situações. E não duvido nada que quando essa piranha for lá entregar as doações, vai dizer que tudo foi ela que deu, e não os demais colegas da empresa... Enfim, todo esse desastre vai rolando, seguindo esse ciclo vicioso: o governo mapeia as áreas de risco, pede para a população sair, ninguém sai, o governo não faz nada e todos vivem suas vidas achando que não vai acontecer nada. Aí acontece, morrem centenas de pessoas... Aí ficam as pessoas em prantos pedindo ajuda, grupos de emergência dos bombeiros, Defesa Civil e até das Froças Armadas tendo trabalho para resgatar todos, surge o momento de solidariedade do restante da população, o governo fala em obras de contenção e remoção das famílias... Aí é só esperar até chegar o carnaval, a final do BBB ou o campeonato de futebol, que todos esquecem do ocorrido e ano que vem começa tudo de novo. É o mal do brasileiro, só se preocupa com os problemas quando eles acontecem... Apenas para ver como que o desinteresse dos governantes e a irresponsabilidade da população são os maiores vilões, é só ver o que aconteceu na Austrália também no início desse ano. Grandes enchentes colocaram grandes cidades debaixo d'água, provocando muita destruição. Saldo da catástrofe: menos de 30 mortos, vinte vezes menos que na Região Serrana do Rio. É a diferença que faz um país de primeiro mundo, onde ações preventivas são realizadas e a população colabora. Tem que ser um trabalho conjunto, tanto os governantes como o povo têm que fazer a sua parte. Precisamos de mais obras para prevenção desses desastres climáticos, como redes para escoamento de águas pluviais e obras para contenção de encostas. Precisamos também que o povo seja mais consciente e não construa suas casas nas regiões de risco e tampouco sujem os rios e desmatem encostas. Será que é tão difícil de todos se conscientizarem disso? Quantos vão ter que morrer para que comecem a se preocupar com essa questão? Como saideira, só mais uma pisada em cima dos petralhotários... Logo no início do ano, as fortes chuvas atingiram primeiro São Paulo. Iniciou-se então a crucificação do governador Geraldo Alckmin e do prefeito Gilberto Kassab, por parte dos vermelhos. Diziam que eles deviam ser presos, como se eles fossem os culpados pelas chuvas que encheram a cidade e vitimaram em torno de 20 pessoas. Quando o governador paulista disse que essas coisas não se resolvem "da noite para o dia", foi criticado, foi dito que ele estava enrolando e coisas do tipo... E agora, centenas de mortos no Rio de Janeiro... Um ano depois de um mega desastre que também vitimou várias pessoas... Pergunto para os mesmo petelhos acima o que têm a dizer do governador Sérgio Cabral. Será que ele tem que ser preso também? Alguém vai culpá-lo pelas fortes chuvas e desabamentos? Ou foi apenas uma fatalidade climática, culpa da Mãe Natureza? É isso mesmo... Acontece uma tragédia durante um governo tucano, e os petralhotários caem de porrada e criticam ferozmente. Agora, se acontece algo similar ou pior em um governo petralha ou aliado, aí todo mundo se cala...

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