Metrô ainda pior

Como já comentei em diversas vezes, sou um texugo não-motorizado e por isso dependo de usar o transporte público para ir e vir. Embora andar por aí dessa forma não seja o mais confortável muitas vezes, tenho que dizer que não me incomodo muito. Primeiro, por que eu geralmente busco opções e horários em que tais meios de transporte geralmente não estão muito lotados, é uma das grandes vantagens de na maior parte das vezes eu estou indo contra o fluxo. Segundo, ter um carro é algo que geraria toda uma série de despesas que neste momento não tenho condições de assumir, melhor dizendo, prefiro não assumir pois vejo que não compensaria. E em terceiro lugar, ao se deslocar pelo transporte público temos a oportunidade de fazer algo para se distrair, como ler um livro, ou até mesmo tirar um cochilo, algo que ajuda principalmente quando você está para começar um dia de trabalho ou após aquele dia cansativo na labuta.

Mas... Convenhamos que ultimamente o transporte público no Rio de Janeiro está cada vez pior. Andar de ônibus é um exercício de paciência, parece que toda a semana eles trocam o itinerário de alguma linha. Aquele VLT é uma paspalhice, precisa ter um batedor na frente do bondinho high-tech que anda a meio quilômetro por hora e não consegue trafegar na chuva. Vários exemplos, mas hoje eu venho aqui pra descascar o metrô, que está conseguindo se superar...


Tudo isso por conta da "maravilhosa" extensão da linha 4.

Cabe um momento para explicar para os eventuais visitantes do site que não conhecem esse modal carioca. O metrô aqui do Rio sempre foi uma piada, com as suas únicas duas linhas. Nos primórdios, desde quando me entendo como gente, a linha 1 ia de Botafogo até a Tijuca, e a linha 2 saía da Estácio para ir em direção à Zona Norte. Ao longo dos anos, deram algumas esticadas nos trechos, chegando até Copacabana, e inventaram a estupidez do trecho compartilhado: agora a linha 2 parte de Botafogo, dividindo o mesmo trilho com a linha 1. Assim, entre Botafogo e Central os trens vêm alternados (geralmente), e aí qualquer problema em uma das linhas fode todo o sistema.

Diversos planos de extensão do metrô foram propostos, muitos deles querendo fazer algo mais sensato, criando uma rede ferroviária, como o mapa abaixo apresenta, com uma proposta mais inteligente do que a realidade que temos. Já comentei disso aqui uma vez, poderia não ser uma rede imensa mas já ajudaria. Mas, interesses políticos obscuros sempre barraram essa iniciativa.


E aí nesse ano o metrô apresentou aquilo que, segundo ele, era uma das grandes melhorias. A implementação da linha 4. Sim, igualzinho aos flamenguistas que acham que o 7 vem depois do 5, aqui no Rio pularam a linha 3...

Inaugurada às pressas para as Olimpíadas lá por julho, quando só foi disponibilizada para quem estava indo assistir as competições, e depois de alguns meses de testes e ajustes que deveriam ter sido feitos antes de ser aberta ao público, a linha 4 está operando já tem um tempinho. Ela se caracteriza por um novo trecho, que parte de um anexo da estação terminal de General Osório, passando por três estações em Ipanema e no Leblon, depois com outra parada em São Conrado e por fim o ponto final no Jardim Oceânico na Barra.

Tal linha foi divulgada como algo maravilhoso. Finalmente o metrô havia chegado na Barra, e assim as pessoas poderiam chegar ao centro do Rio com extrema facilidade. Muita gente aplaudindo, achando que fizeram um grande negócio... 

Só que na minha opinião, me parece que conseguiram foi é estragar de vez com o metrô.

Não sei por onde começo. Veja só o mapinha abaixo, onde podemos ver a nova linha 4 em amarelo...


Bom, não precisa queimar muitos neurônios pra perceber que a linha 4 nada mais é que uma esticada da linha 1. O sistema já está sobrecarregado, e aí a brilhante idéia que tiveram foi dar uma esticada a mais no trecho. Assim, você traz mais passageiros porém continua sem uma estrutura ampla para atender essa demanda mais alta. Resumindo, os trens, principalmente da linha 1, ficaram ainda mais cheios.

O mais hilário de tudo é que criou-se agora na estação General Osório um cenário semelhante à estação Estácio, na época em que a transferência entre as duas linhas ocorria ali. Imagina o sujeito que quer ir pra Barra. Ele precisa descer do trem da linha 1 na General Osório, caminhar ali um pedaço dentro da estação e esperar um outro trem que vai dali em direção à Zona Oeste. Mesma coisa no caminho contrário.

Em outras palavras: conseguiram aqui no metrô do Rio a inimaginável proeza de criar uma baldeação na mesma linha! Pois, chamar a linha 4 de um novo trecho é piada, trata-se apenas de um puxadinho da linha 1.


Com isso, a General Osório se tornou uma zona. Certo dia estava lá em Ipanema e decidi pegar o metrô para ir ao Centro. Antigamente, eu chegava ali e via a plataforma relativamente tranquila, basicamente só o pessoal da região ali do final de Copacabana e início de Ipanema indo ali, além de algumas pessoas vindo dos ônibus do metrô. Tinha vezes que eu conseguia até ir sentado!

Mas quando fui dessa última vez, cheguei lá e vi a plataforma lotada, gente para caralho. Mal tinha onde ficar ali. Chegou o trem, desceu um mar de pessoas, e os apressadinhos querendo embarcar já se empurrando ali. Imaginando inicialmente que aquilo era apenas o acúmulo de gente devido ao atraso do trem (afinal, no Metrô Rio temos também engarrafamento) e vendo que não estava com pressa, deixei o galerão ir naquele trem e esperei o próximo. Na boa, não deu nem dois minutos que o trem saiu e veio uma outra maré de gente, era todo mundo que estava num trem vindo da linha 4 e que ia agora pegar a linha 1. Lotou de novo, vagabundo ali grudadinho ao meu lado pra espremer a passagem e arrumar um lugar pra sentar. O vagão saiu lotado...

Simplesmente não dá. A quantidade de vagões na linha 1 não aumentou o suficiente para absorver uma massa adicional de gente que veio a adotar o transporte subterrâneo para vir da Barra e adjacências. Ainda mais com os intervalos irregulares que acontecem em todas as viagens. Vemos agora que o metrô agora vai ficar abarrotado de gente até a porta nos dois sentidos no horário do rush.

Algo que eu acho engraçado é que passa uma propaganda no metrô, tentando tornar maravilhosa essa extensão, dizendo algo como que com o metrô você pode economizar tempo no seu trajeto para chegar em casa e fazer mais coisas, dizendo que o trajeto do Centro até a Barra leva 35 minutos, com o barbinha ali todo feliz enquanto se desloca em um vagão praticamente vazio.


Como se esse trajeto levasse mesmo 35 minutos, isso dá do Centro até a General Osório, sem contar as paradas bruscas e engarrafamentos, e em um mundo de faz de conta onde você pode viajar durante o fim do dia sem ser espremido como uma sardinha... Talvez possa ser mais rápido do que ir de carro, mas muito mais desconfortável.

Uma coisa curiosa que merece ser comentada é ver como o planejamento do metrô para a Barra não foi muito bem executado. Se você comparar os dois mapas que coloquei acima, verá que no plano original os trilhos deveriam chegar até a Alvorada, um terminal de ônibus que fica ali naquele miolo entre Barra, Recreio e Jacarepaguá, perto inclusive do Barra Shopping, que costuma ser o ponto de encontro da região. Mas, preferiram ir só até o Jardim Oceânico, lá no início da Barra, logo depois do túnel do Joá.


Ou seja... Em vez de fazer o metrô até um ponto mais central, junto com um terminal de ônibus que facilitaria o acesso para outras regiões, tiveram a brilhante idéia de ir até o comecinho da Barra. Assim, quem mora mais distante vai ter que pegar uma outra condução pra chegar lá no metrô, ou até mesmo vai ter que ir de carro até o Jardim Oceânico para pegar o metrô! Ou seja, aquela região ali que já tinha o trânsito enrolado ficou ainda mais congestionada, em mais uma demonstração de incompetência e falta de planejamento.

O pior de tudo é o seguinte: fizeram questão de colocar uma estação em São Conrado, com uma entrada ali para a Rocinha. Sei que vão me xingar aqui, mas simplesmente fuderam com o metrô assim, dando essa extrema facilidade pra "tchurminha" da favela pegar o metrô também. Podem falar o que for, mas quem vier aqui me chamar de preconceituoso bem que poderia pegar um metrô num dia de sol no verão no final do dia, cheio de favelado bagunceiro gritando e zoando dentro da porcaria do vagão. Com todo o respeito, mas a Zona Sul já precisa aturar aquele monte de gente que vem pra cá no 474 e similares pra fazer baderna, criar confusão e arruaça, não tem nem espaço físico pra receber mais gente aqui nos dias de praia...


Noutro dia que fiz o mesmo itinerário, vi uns guardinhas do metrô enquadrando ali um grupinho daqueles que a gente já conhece (meia dúzia de adolescentes de cabeça raspada, chinelo e bermuda), que tava ai zoneando tudo, mexendo com as pessoas e querendo embarcar pelo lado da saída. Não dá, meu amigo. Pra andar em um transporte público, seja metrô, barca, trem ou ônibus, precisa ter respeito pelos demais passageiros, ter um mínimo de cidadania e educação, coisa que esses baderneiros não têm, principalmente quando estão em bando. Em algumas oportunidades vejo essa turminha indo ou vindo da praia fazendo barulho, batendo na lataria do ônibus, gritando uns com os outros, geralmente falando palavrão e até mesmo mexendo com as pessoas, e estão dando margem pra que isso venha a acontecer também no metrô. Tem que expulsar mesmo, tem que proibir.

Embora temos que deixar claro que falta de educação não é exclusiva de favelado voltando da praia. O metrô do Rio parece concentrar as pessoas mais mal educadas da face da Terra (melhor, de debaixo da Terra), e aí coloco nesse grupo todo mundo: as madames metidas que acham que todos precisam abrir caminho, os idosos grosseiros que se protegem com o Estatuto do Idoso pra fazer o que querem, os engravatados metidos a executivos e advogados que se sentem mais importantes que os outros pra sair empurrando, os cretinos que sentam de perna aberta como se estivessem com o saco assado e ocupam mais espaço que lhes é de direito, os alunos de escola e faculdade que sem nenhum pudor sentam no meio do caminho pra atrapalhar, os manés que cismam de entrar em um vagão lotado carregando uma caixa ou isopor imenso, aqueles paspalhos que ou não conseguem se aguentar em pé ou gostam de relar em um objeto roliço que praticamente abraçam os postes e impedem que outros possam se segurar, os expansivos que apesar de todos os avisos andam com suas mochilas e bolsas imensas nas costas pra atingir os demais, os palhaços sem noção de espaço que ficam ali parados na porta e dificultam a vida dos passageiros que querem passar, os filhos das putas que não esperam que todos saíam do vagão e já tentam remar contra a maré... Posso ficar aqui até amanhã citando exemplos...

Mais uma vez, não venham aqui me chamar de preconceituoso por conta do comentário dos moradores das "cumunidades"... Dessa lista que eu dei aqui em cima, muitos são moradores da Zona Sul, provavelmente de frente para a praia e que vivem muito bem. A educação, assim como a falta dela, não se limita a essa ou àquela classe social.

E com o metrô indo um pouco mais longe, conseguiram convidar ainda mais gente mal-educada pra andar em seus vagões. Tornando um mero translado um verdadeiro exercício de paciência.

Curioso é que em alguns momentos havia uma certa impressão de que a linha 4 ia funcionar de maneira um pouco diferente. Certa vez percebi que entre as estações Cantagalo e General Osório existem desvios, meio que fazendo a curva mais pra dentro. Como mostra a foto abaixo, tirada da estação Cantagalo, onde o trilho que vai longe segue para a estação terminal da General Osório, e tem ali dois trechos que seguem em outra direção.


Muitas pessoas, inclusive esse texugo que aqui escreve, começaram a questionar que isso seria uma mudança dos planos das linhas, onde na verdade não existiria uma linha 4, mas sim uma extensão da linha 1. Na verdade, uma oficialização do que hoje ocorre na prática. Dessa forma, a linha 1 passaria a ir da estação Uruguai lá na Tijuca, passaria por todo o trecho de hoje e depois seguiria por esse desvio em direção a uma nova estação General Osório e dali em diante até a Barra. Por sua vez, a linha 2 que hoje termina em Botafogo, seria estendida até a antiga estação General Osório.

Não sei o quanto isso seria melhor ou pior. Imagino que para a turma que estava acostumada a pegar o metrô na General Osório seria mais legal, pois não teria essa zona que tem hoje. Mas certamente o trem da linha 1 ia ficar um inferno...

Enfim, eu confesso que começo a pensar duas vezes quando o assunto é pegar o metrô, principalmente se tal deslocamento vier a ocorrer em um dos horários de pico. Não discuto que esse é talvez um dos meios de transportes mais limpos e seguros que temos hoje em dia, se comparamos com os ônibus ou trem por exemplo. Mas as constantes falhas de planejamento, com idéias meio sem noção e a intra-estrutura que não acompanha a expansão das linhas, estão transformando o metrô em algo difícil de aturar. Tudo bem que metade dos problemas que eu cito são por conta das pessoas mal-educadas que passam por ali, mas o restante tem a ver a estrutura de fato do metrô...

Vamos ver o que o futuro reserva...

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